Resenha Crítica: Lucíola

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Classificação: 3 estrelas 🌟 🌟 🌟

Livro: Lucíola

Autor: José de Alencar

Editora: IBEP Nacional

Ano: 1862 – 2006

Páginas: 159

Sinopse:  ”Alencar apresenta em Lucíola, uma crítica de costumes do Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado.Essa obra representa, por isso, um marco da ficção urbana de Alencar. Um dos mais polêmicos romances. Lucíola conta a história de um jovem de família tradicional que se apaixona por uma ex-prostituta.”

Tive lá minhas dificuldades para ler esse livro, devido ao meu tempo. Mas confesso que é ótimo.

A história é narrada por Paulo. Um jovem pobre que vem de outra província para o Rio de Janeiro. Paulo conhece Lúcia, uma jovem rica, de beleza divina, que o encanta. Entretanto, Lúcia vive só, sem seus pais ou marido. Ela é uma prostituta da Corte, vende seu corpo para os homens mais ricos e é muito amada pelos mesmos.

Paulo, por sua vez, fica indignado. Para ele, uma mulher tão linda não deveria se entregar a essas atitudes.

Paulo e Lúcia, depois de algumas brigas e entendimentos, começam a namorar. Mas não acaba por aí, o casal passa por muito preconceito, críticas, fofocas, intrigas…

Muitos conflitos que surgem ao longo do livro, são por culpa da “opinião pública “. Muitos petelecos na vida do casal, murmúrio pra cá e pra lá. Mas isso não deixa o livro chato ou menos interessante. Acho que serve para mostrar que, mesmo a história tenha se passado no Rio antigo, muitas pessoas, cabeças e opiniões não mudaram.

A personagem Lúcia é cativante. No começo, se forma um pré julgamento, já que a história é narrada em primeira pessoa. Conforme se passa o desenrolar da história, percebe-se o que leva a Lúcia a se prostituir e que na verdade há uma mulher inteligente, carinhosa e delicada por trás dessa fachada de vadia que todos colocam. Eu simplesmente amei ela.

Quando ela encontra Paulo, tenta ao máximo livrar-se de seu passado e começar de novo, junto com seu amado. Mas como citado acima, a corte do Rio não vai facilitar as coisas.

Ótima leitura, recomendo a todos.

”-Portanto tenho o direito de ser acreditada. As aparências enganam tantas vezes! Não é verdade?”  (cap II)

 

“Tinha-me saturado da poesia do mar, que vive de espuma, de nuvens e de estrelas; povoara a solidão profunda do oceano, naquelas compridas noites veladas ao relento, de sonhos dourados e risonhas esperanças; sentia enfim a sede em flor que desabrocha aos toques de uma imaginação de vinte anos,sob o céu azul da corte.” (cap II)

 

“Há de ser tão bom a gente sentir-se amada sem interesse!” (capIII)

 

“Essas borboletas são como as outras, Paulo; quando lhes dão asas, voam, e é bem difícil então apanhá-las. O verdadeiro, acredite-me, é deixá-las arrastarem-se pelo chão no estado de larvas.” (cap IV)

 

“Ainda que se tivesse passado anos, creio que em qualquer parte onde me encontrasse com o senhor, o reconheceria.” (cap IV)

 

“É um defeito meu. Não reparo na toilette das moças bonitas pela mesma razão por que não se repara na moldura de um belo quadro.” (cap IV)

 

”É o coração, quando fortemente confrangido por violenta emoção, que espreme esse soro do sangue que gela e coalha.”(cap IV)

 

”-Ah! Não repare! Sofro do coração; às vezes sobe-me o sangue à cabeça, fico muito pálida, e sinto uma dor aguda que me arranca lágrimas dos olhos!… Não é nada;passa-me logo.” (cap IV)

 

”- Todas são assim com pouca diferença; ninguém sabe qual é o fio que faz dançar essas bonecas de papelão.” (cap V)

 

”Uma mulher que pede, marca o preço de sua gratidão ou do seu amor; a mulher que não pede é um abismo que nunca se enche!” ( cap V)

 

”Com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na sociedade?” (cap VII)

 

”Por isso quando em alguns livros moralíssimos vejo uma reticência, tremo! Se uma curiosidade ingênua de 15 ou 16 anos passar por ali, não verá abrir-se em cada um desses pontinhos o abismo do desconhecido?” (cap VII)

 

”Ora! Há tanta mulher bonita!Qualquer destas vale mais do que eu,acredite! [..] Que importa o nome? Sabe porventura o nome das aves e dos animais que lhe preparam esta ceia? Conhece-os?…Nem por isso as iguarias lhe parecem menos saborosas. (cap VII)

 

”Já conheces o amor dessa mulher: é um gozo tão agudo e incisivo que não sabes se é dor ou delícia; não sabes se te revolves entre o gelo ou no meio das chamas.” ( cap X)

 

”Lúcia tinha a poesia da voluptuosidade” ( cap XI)

 

”Há aqui no Rio de Janeiro certa classe de gente que se ocupa mais com a vida dos outros, do que com a sua própria; e em parte dou-lhes razão; de que viveriam eles sem  isso,quando têm a alma oca e vazia?” ( cap XI)

 

”Ah! Esquecia que uma mulher como eu não se pertence; é uma coisa pública, um carro de praça, que não pode recusar quem chega.” ( cap XII)

 

”Quem conhece o fio misterioso que leva o pensamento através do labirinto do passado a uma lembrança remota? ”  (cap XII)

 

”Não conheço mais estúpido animal do que seja o bípede implume e social, que chamam de homem civilizado. ” (cap XIII)

 

”Passei esta noite, continuei, cheio de teu pensamento e de tua imagem.” (cap XIV)

 

”Não se morre de dor, poque não morri  esta noite!” (cap XIV)

 

”O amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de gastar-se e envelhecer, remoça como a natureza quando volta a primavera.” (cap XV)

 

”Porque não queres; porque já não és a mesma!

-Não decerto, não sou a mesma!  Mudei tanto!” (cap XV)

 

”O tempo é remédio soberano.” (cap XVII)

 

”-E de quem é? De quem te fez tão bonita? (cap XVII)

 

”Mas o senhor não sabe que posso comprar o que me parecer sem que reparem; e não posso vender coisa alguma sem que me suponham arruinada?” (cap XVII)

 

”Tudo muda!Tudo passa! (cap XVIII)

 

” Sofri muito, ainda sofro; mas sinto a necessidade de perdoar.” (cap XIX)

 

”Quando me chamas assim, Paulo, murmurava ela, parece-me que tu me embebes  e me afagas num só e imenso beijo que me envolve toda.” (cap XX)

 

”-Elas não sabem, como tu, que eu tenho outra virgindade, a virgindade do coração!” (cap XX)

 

”Tu deves ler dentro de mim, e compreender o que eu não sei dizer, o que não sei nem mesmo pensar.” (cap XXI)

 

”Almas como as de Lúcia, Deus não as dá duas vezes à mesma família, nem as cria aos pares, mas isoladas como os grandes astros destinados a esclarecer uma esfera.” ( cap XXI)

 

 

”Há nos cabelos da pessoa que se ama não sei que fluído misterioso, que comunica com o nosso espírito.” (cap XXI)


OBS: Post do blog antigo (10/11/2015)

 

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