Resenha Crítica: Dom Casmurro

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Classificação: 5 ESTRELAS 🌟 🌟 🌟 🌟 🌟

Livro: Dom Casmurro

Autor: Machado de Assis

Editora: Nova Fronteira

Ano: 1899-2014

Páginas: 208

SOBRE A CAPA: Li a versão coleção de bolso da Saraiva, que atualmente só se compra pelo site o livro digital ou na livraria física. Agora pesquisei outras capas e simplesmente estou apaixonada por essa versão!

ACEBEI DE LER DOM CASMURRO!! O QUE FALAR????

Primeiramente, queria dizer que amo/odeio esse livro.

O livro é narrado por Bentinho (Dom Casmurro) que já velho, começa a escrever sua história, partindo de sua adolescência. Quando descobre seu amor por Capitu, mas se vê preso ao seminário, já que sua mãe fez uma promessa de que ele seria padre. É possível acompanhar uma evolução dos personagens, um amadurecimento no decorrer da história. Já que o livro fala sobre o período que Bentinho passou no seminário, na faculdade e seu retorno ao lar.

É importante frisar bem que em todo momento do livro, ele fala ”se não me falha a memória”, ou seja, suas lembranças podem estar um pouco distorcidas. Sem contar que uma das características de Bentinho é seu sentimentalismo.

Bentinho é um personagem dramático. Ele é sentimental e extremamente ciumento. Ao menor sinal ou olhar que dão para Capitu ele já dá chilique. Mas ao mesmo tempo justifica todo esse ciúme por amar demais a moça e querer ela só para si.

Vou dizer o que este livro me causou: não sei. Tinha momentos em que eu queria tacar o livro na parede  e gritar ”BENTINHO PARA” e em outro eu queria casar com Bentinho.

Claro, o livro não é só Bentinho, tem também a incrível Capitu! Capitolina é uma moça linda, inteligente e curiosa. Apelidada por José Dias (já já falo dele) de Olhos de ressaca.  Capitu desperta o amor no coração de Bentinho, quando ainda era adolescente. Ela é uma excelente personagem. a forma como Bentinho a descreve e os diálogos nos quais ela participa, só me fizeram a amar ainda mais. Ela é uma mulher um tanto avançada para sua época, independente e muito curiosa. Com uma personalidade forte, decidida, diferente de Bentinho, que é sensível a tudo.

Também há José Dias. Eu amei esse personagem. É difícil eu me simpatizar tanto com um personagem, mas com ele, sei que rolou. Ele é um grande amigo da família. Uma vez ele apareceu na tua de Bentinho, dizendo que era padre e curando meia dúzia de pessoas. A mãe de Bentinho, dona Glória, era viúva, e vivia com seu irmão – Tio Cosme. Ela sempre fora devota e admirou tanto o padre que lhe pediu que ficasse mais um pouco na rua de Mata-cavalos, em sua casa. No começo, José Dias alegou que não era para sempre, mas os dias foram se arrastando e quando percebeu, já era da família. Mesmo quando admitiu que não curou ninguém e que sim tinha utilizado folhas e ervas medicinais, foi  aceito pela família. Até aqui não dei nenhum spoiler, isso tudo está nos primeiros capítulos.

José Dias tinha mania de superlativos e aconselhou Bentinho em muitas ocasiões. Ele é falante, mas também bom ouvinte; parece adivinhar as neuras de Bentinho.

Lá para o meio da história, entra Escobar, que se torna um grande amigo de Bentinho. É difícil falar sobre Escobar sem revelar algum spoiler, então vou ficar quietinha.

Uma das coisas que eu mais gostei do livro, foi esse ar de 19890 e bah. O livro contém tantos detalhes da vida do Rio antigo… e até mesmo os nomes das ruas e lugares. Os bailes, a formalidade, o pensamento… Tudo isso me encantou!

Tive várias emoções enquanto li o livro. Senti-me em um romance adolescente, depois me senti enganada e por último, com aquele gostinho de quero mais. Sim, eu ainda quero mais.

Uma nota importante: Machado de Assis faz um joguinho com o leitor. Uma hora faz você faz ter convicção e na outra não. Sem contar que o livro só´relata o ponto de vista de Bentinho, não sabemos as outras versões…

A leitura é sim cansativa em alguns momentos. NO geral, consegui ler o livro tranquilamente, mas era estranho me deparar com um linguagem assim tão formal e algumas palavras rebuscadas. Em todo o livro, encontrei em torno de 10 palavras que não entendi de jeito nenhum – nem pleo contexto. Fora isso, consegui ler tudo. Fiquei surpresa com os capítulos curtíssimos de Machado, o maior – sim, eu contei – tinha 3 páginas.

E pra encerrar como sempre, vou postar trechos. Muitos trechos, porque meu livro está LOTADO de post-it:

”Verdadeiramente foi o princípio de minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia… Agora é que eu ia começar minha ópera.” Capítulo VII

 

”Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas.” 

 

”Todas as palavras recolheram-se ao coração, murmurando: Eis aqui um que não fará grande carreira no mundo. As emoções o dominam.” 

 

”Dizem por aí. mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.”

 

”Deus é poeta. A música é de Satanás.” Capítulo IX

 

”Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem. Se ainda o não disse, aí fica.” Capítulo XXXI

 

”E com uma letra bem pequena, lá estava escrito no seu epitáfio: Tentou ser, não conseguiu; tentou ter, não possuiu; tentou continuar, não prosseguiu;  e nessa vida de expectativas frustadas tentou até amar… Pois bem, não conseguiu, e aqui está.”

 

”O ser humano gosta de complicar as coisas, é só uma brisa, quem sabe ela bagunce teu cabelo, quem sabe te acaricie o rosto, quem sabe, quem sabe….”

 

”A minha alegria acordava a dele, e o céu estava tão azul, e o ar tão claro, que a natureza parecia rir também conosco. São assim as boas horas deste mundo.”

 

”Nem tudo é claro na vida.”

 

A gente Paduá não é de todo  má. Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu… Você já reparou nos olhos dela? São olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Capítulo XXV

 

”Os sonhos do acordado são como outros sonhos, tecem-se pelo desenho das nossas inclinações e das nossas recordações.” Capítulo XXX

 

”Tinha me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada eu sabia, e queria ver se podia os chamar assim.” Capítulo XXXI

 

” Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra de dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.” Capítulo XXXI

 

” Como eu quisesse falar para disfarçar o meu estado, chamei algumas palavras cá d dentro, mas elas encheram minha boca sem poder sair nenhuma.” Capítulo XXXIV

 

” Aos 15 anos, tudo é infinito.” Capítulo L

 

”-Isto prova que as ideias aritméticas são mais simples e portanto mais naturais. A natureza é simples. A arte é atrapalhada.” Capítulo XCIV

 

”Deu na gama de experimentar se as sensações antigas estavam mortas ou dormias, só; não posso dizê-lo bem, porque os sonos, quando são pesados, confundem vivos e defuntos.” Capítulo CXVII

 

”Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada.” Capítulo CXLVII

 

”Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinas.” Capítulo IX

 

”Cheguei a pegar em livro velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.

-Meu senhor, responde-me um londo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.” Capítulo XVII


 

 SPOILER: SPOILER: SPOILER: SPOILER: SPOILER: SPOILER:
Uma hora eu tinha certeza de que Capitu traiu Bentinho, na outra não. Ainda não sei se com a morte de Escobar, Bentinho começou a  enxergar coisas onde não tinha e a criar paranoias ou se realmente Capitu traiu Bentinho.
Eu acredito que não, já que quando ela foi para Suíça, continuou mandando cartas e pedindo para que Bentinho voltasse.
Estou me recuperando aos poucos.

OBS: Post do blog antigo (22/10/2015